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Como mudar alguém

Em 1998, uma senhora me procurou com uma pergunta que, ao longo dos anos, se mostrou comum em muitas famílias: “Como mudo meu marido?” Essa questão não é incomum. Em minha experiência ajudando famílias, descobri que, em 295 casos analisados, mais da metade das famílias buscava a mesma coisa — mudar um outro membro da família. Esse desejo não se limita ao âmbito familiar; nos últimos 25 anos, observei que 80% das pessoas que deixaram suas denominações o fizeram após tentativas frustradas de mudar uma liderança religiosa.

Para abordar essa questão, precisamos refletir sobre a passagem de Tiago 1:21-24. Ele nos exorta a despojarmo-nos de toda impureza e acúmulo de maldade e acolher, com mansidão, a palavra implantada em nós, que é poderosa para salvar nossas almas. Tiago nos adverte para nos tornarmos praticantes da palavra e não apenas ouvintes, para que não nos enganemos. Ele compara aqueles que ouvem, mas não praticam a palavra, ao homem que se contempla no espelho e logo se esquece de sua aparência. Essa metáfora é profunda, pois enfatiza a necessidade de autoexame e transformação interna como precursoras de qualquer mudança externa.

A única maneira verdadeira de mudar as circunstâncias e relações é oferecer-se como objeto de transformação. Isto está alinhado com o ensinamento do Novo Testamento e se reflete também em 1 Coríntios 13:12, onde Paulo fala sobre ver como em um espelho, obscuramente, e depois ver face a face. Na época de Paulo, os espelhos não eram claros como os de hoje. A melhor reflexão era vista em uma bacia de água, proporcionando uma visão distorcida e obscurecida. Essa analogia nos lembra que a nossa autoimagem, sem a claridade de Cristo, é imprecisa e incompleta.

Para melhorar essa auto-contemplação, precisamos remover preconceitos, religiosidade e camadas culturais condicionantes que obscurecem nossa visão. A Bíblia, em Apocalipse 3:18, fala a Igreja de Laodiceia sobre utilizar um colírio para ungir os olhos e ver claramente. Isso simboliza a necessidade de clareza espiritual e honestidade em nosso autoexame.

Contemplar a face de Cristo oferece uma visão clara de quem devemos ser. Ele não é um mero reflexo, mas a imagem perfeita de nossa aspiração. Quando olhamos para Cristo, nossa visão distorcida se ajusta, e começamos a entender quem realmente somos e quem devemos nos tornar. A prática do evangelho é fundamental. Tiago enfatiza que ouvir sem praticar é se enganar, assim como o homem que se esquece de sua aparência ao se afastar do espelho.

Para mudar o mundo e nossas relações, devemos começar pelo homem no espelho. Muitas vezes, queremos mudar o outro, mas relutamos em enfrentar nossas próprias falhas e limitações. A verdadeira mudança começa com a remoção do véu de nossa visão, permitindo-nos ver claramente através do exemplo de Cristo.

A prática do evangelho envolve ações concretas: perdoar ofensas, amar inimigos, orar por perseguidores, buscar justiça e manter um coração limpo. Essa transformação interior, motivada pela fé e decisão consciente, resulta em mudanças visíveis em nossas vidas e nas vidas daqueles ao nosso redor. Não é uma questão de emoção, mas de compromisso e prática diária.

A história da senhora que queria mudar seu marido exemplifica a necessidade de olhar para dentro antes de tentar mudar o outro. Ela se preocupava que seu marido e filho, por jogarem bola aos domingos ao invés de irem à igreja, estivessem condenados. No entanto, a verdadeira transformação que ela buscava só poderia ocorrer através de uma mudança interna profunda, começando por ela mesma.

Em resumo, a única pessoa que podemos efetivamente mudar somos nós mesmos. Ao nos deixarmos transformar pela mente de Cristo, praticando o evangelho com sinceridade e decisão, podemos influenciar positivamente aqueles ao nosso redor. Assim, a palavra de Deus crescerá e frutificará em nossas vidas, e através de nós, nas vidas de nossa família e comunidade.

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